Agora cabe colocar diretamente a pergunta: afinal, o que é espiritualidade?
Uma vez fizeram esta pergunta ao Dalai-Lama e ele deu uma resposta extremamente simples:
“Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”.
Não entendendo direito, alguem perguntou novamente:
- Mas se eu praticar a religião e observar as tradições, isso não é espiritualidade?
O Dalai-Lama respondeu:
- Pode ser espiritualidade, mas, se não produzir em você uma transformação, não é espiritualidade.
E acrescentou:
- Um cobertor que não aquece deixa de ser cobertor.
Então atalhou a pessoa:
- A espiritualidade muda ou é sempre a mesma coisa?
E o Dalai-Lama falou:
- Como dizem os antigos, os tempos mudam e as pessoas mudam com ele. O que ontem foi espiritualidade hoje não precisa mais ser.
O que em geral se chama de espiritualidade é apenas a lembrança de antigos caminhos e métodos religiosos.
E arrematou:
- O manto deve ser cortado para se ajustar aos homens. Não são os homens que devem ser cortados para se ajustar ao manto.
Parece-me que o principal a ser retido desse pequeno diálogo com o Dalai-Lama é que espiritualidade é aquilo que produz dentro de nós uma mudança.
O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está pronto, está sempre se fazendo, física, psíquica, social e culturalmente.
Mas há mudanças e mudanças.
Há mudanças que não transformam nossa estrutura de base.
São superficiais e exteriores, ou meramente quantitativas.
Mas há mudanças que são interiores.
São verdadeiras transformações alquímicas, capazes de dar um novo sentido à vida ou de abrir novos campos de experiência e de profundidade rumo ao próprio coração e ao mistério de todas as coisas.
Não raro, é no âmbito da religião que ocorrem tais mudanças.
Mas nem sempre.
Hoje a singularidade de nosso tempo reside no fato de que a espiritualidade vem sendo descoberta como dimensão profunda do humano, como o momento necessario para o desabrochar pleno de nossa individuação e como espaço da paz no meio dos conflitos e desolações sociais e existenciais.
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