16 maio, 2013

Mudando a programação reformulando a vida


Uma das nossas maiores dificuldades é a mudança. Reclamamos quando ela acontece a nossa revelia, sem que participemos; ao mesmo tempo protelamos quando algumas mudanças se tornam necessárias. No entanto, de acordo com Heráclito (500 anos a.C.), a mudança é a única verdade constante. Isto porque tudo está em movimento; nós é que, as vezes nos esquecemos de obedecer a esse movimento que é a própria vida em si. É conhecido o ditado popular que diz: “quando passar um cavalo encilhado em nossa frentedevemos montá-lo”. Talvez outra oportunidade não surja. A principal dificuldade de mudança reside no medo de perdermos o controle e a necessidade de controle reside no próprio medo. O medo governa nossa vida, pois tudo que queremos controlar acaba nos controlando.
A maioria das inovações foi construída pelas heresias, por isso que um poder absoluto corrompe absolutamente. “Vede os bons e justos! Quem eles odeiam mais? Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator: – mas este é o criador… O criador é aquele a quem odeiam mias: O que quebra tábuas e velhos valores, o quebrador – a ele chamam de infrator. Pois os bons – esses não podem criar: eles são sempre o começo do fim: – Crucificam aquele que escreve novos valores sobre novas tábuas, sacrificam a si o futuro – crucificam todo o futuro do homem…” (Nietzsche – Assim falou Zaratustra).  Este texto claro não deixa dúvida quando a necessidade da mudança para sobrevivência. Nosso próprio corpo modifica totalmente em cada certo tempo, o que pode ser preservado é a consciência, nossa verdadeira identidade.
O primeiro infrator da história foi, de fato, o próprio Deus, pois consta que ele expulsou sua criatura do paraíso. Depois desta infração divina, o homem não parou mais de crescer. A necessidade de vivermos no tempo real, o agora, implica em vermos tudo como novo o tempo todo. A dificuldade de mudança está na falsa necessidade de segurança do que já é conhecido.
Quando nascemos, nos instalam um “programa” que está de acordo com a cultura vigente daqueles que são responsáveis por nós, ou irresponsáveis. Dessa forma, nosso “programa” pode representar as frustrações dos nossos responsáveis ou o abandono deles. Neste último caso, a formação de uma identidade capaz de nos colocar na vida de forma produtiva se complica, porque o resultado do abandono afetivo é o vazio existencial que é preenchido, pela busca de uma identidade marginal. A necessidade de mantermos dentro de um esquema programado, pertencer a algum grupo que nos identifica como “alguém”, é um falso conforto de segurança. Essa necessidade cria conceitos que são repetidos sem reflexão, como por exemplo: “Em time que está ganhando não se mexe”. A questão é quando deixamos de fazer a mudanças que mantém o time atualizado. Precisamos ter sempre a autocrítica de “não estarmos correndo atrás do próprio rabo”. A frustração e nostalgia de perceber um futuro que poderia ter sido e a lembrança de um passado fértil que não volta mais nos levam a emoções tóxicas que reforçam conceitos e medos.
O processo terapêutico que tem como objetivo a formação de uma autoconsciência, que se refere a alguns conhecimentos da dinâmica do inconsciente, nos permitindo uma interação mais profunda conosco, muitas vezes esbarra na falta de vontade de mudar. O processo emperra e a relação terapêutica cai no marasmo. Se o terapeuta procura conscientizar o cliente da estagnação do processo, com certeza ele abandonara a terapia. Os “objetos de amor”, mesmo que prejudiciais, num primeiro momento, não podem ser afastados de uma hora para outra sem ser substituído por outros que a consciência aceitou a troca. Por esse motivo se entende a formação de hábitos prejudiciais, apesar do conhecimento que se tem deles. Por exemplo: Na formação do médico fica claro o efeito prejudicial do cigarro, porém, muitos médicos fumam.
A mudança só ocorre de forma espontânea quando a vontade vem do coração, porque mais importante que a compreensão lógica de um fato é o entendimento emocional que nos leva a ele. Somos viciados em emoções. Repetimos comportamentos e atitudes que nos leva ao conforto emociona, mesmo que essas atitudes não nos sejam benéficas; pelo mesmo motivo deixamos de adotar hábitos saudáveis apenas porque estão fora de nosso “programa” mental. A física quântica analisando o comportamento da matéria e da energia nas dimensões subatômicas descobriu que o comportamento delas, matéria e energia, não obedece aos padrões que nossos sentidos captam e registram em nossa memória, essa constatação nos leva a acreditar que utilizamos bem menos do que somos capazes. Essa percepção limitada também nos impede arriscarmos mudanças.
Na história mais recente da humanidade temos duas épocas marcadas por profundas mudanças: A primeira o Iluminismo, onde as geniais produções artísticas despertou a alma para um senso estético sem paralelos na história. Os grandes mestres produziram obras que marcaram o final da idade média, inundada por sombras de ignorância, embora ainda hoje algumas comunidades se vistam e agem como antigamente. A mudança é algo tão difícil que se passaram mais de mil anos até que foi possível registrar em grandes obras as histórias do Novo Testamento, cuja materialização despertou a grandiosidade das mensagens.
O desenvolvimento da tecnologia, sobretudo a comunicabilidade promovida pelo advento da internet, tem provocado a queda de ditaduras centenárias. Também a queda de impérios econômicos que não conseguiram se atualizar.
No âmbito do comportamento humano o festival de woodstock, três dias de música, paz e amor, onde 450.000 pessoas se reuniram numa fazenda, sem nenhuma estrutura de comida, água e alojamento, todos se ajudando mutuamente,  foi marco transgressor  que deu origem ao movimento dos hippies, a vida despojada, as comunidades de base, dando origem mais tarde as Ongs. Era o despertar espiritual coletivo, o final dos anos dourados e nascimento de uma consciência renovadora em curso ainda que chamamos de nova era.
No aspecto pessoal o que importa é o caminho interno da autodescoberta onde a emoção e razão, em equilíbrio, possam permitir o acesso a intuição que trazendo consigo uma consciência mais abrangente, permite também uma reformulação de valores, onde é possível o humanismo “contamina” todos os papeis que desempenhamos na vida. Para participar da nova era de luz que invade a terra é necessário um encontro interior onde aspectos da mente ainda inexplorados possam ficar a nossa disposição. Lentamente as estruturas de poder arcaico dão lugar a uma convivência e representatividade mais fraterna. Mas não entregarão o controle do poder “de mão beijada”, vão lutar e destruir enquanto puderem, até que a transparência da comunicação colocar um poderoso contra o outro para que eles se anulem. Nesse momento nosso papel deve ser o de cuidar de nós mesmos, a consciência coletiva é construída a partir da consciência individual. A era da tribo acabou.

Este artigo foi escrito por Revista Terceiro Milênio em 8 de junho de 2012 às 13:49, e está arquivado em Especial do Mês.

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