Você já parou para ver como é o seu coração? Como ele anda ultimamente? Não, não estou falando só daqueles chatíssimos exames de esteira ergométrica ou os litros de sangue que você já deu em troca de míseros números de colesterol. Estou falando do outro... do coração, o centro dos sentimentos.
Uma vez me explicaram que emoção é diferente de sentimento. Sentimento é o que se sente na alma, no coração. Como o amor, por exemplo. Emoção é aquilo que sentimos na barriga e vai subindo, subindo, como a raiva ou a paixão. As emoções vêm e vão. Depois de 15 minutos daquela discussão idiota com o seu marido você nem se lembra mais “por que foi mesmo?”. Raiva passa. É como a paixão. Você não se governa quando vê o bofe, mas depois de dois meses “como era mesmo o nome dele”? Pois é, isso são as emoções.
As emoções não são coisas que controlamos. Podemos controlar a nossa raiva para não esfaquear o nosso marido, mas não podemos não ter raiva se algo nos irritou. Ela simplesmente vem, sobe e ponto final. E se você está ai sentado pensando que não sente raiva, querida, está só se enganando.
Os sentimentos são diferentes, muito diferentes. Eles não têm pressa, eles não chegam correndo. Você não olha e ama. Você vai amando no dia a dia, com as coisas que a pessoa faz que a pessoa diga. Uma mãe não se apaixona por um filho, ela o ama. Vai amando a cada dia em que ele se forma na sua barriga, depois que ele nasce, quando ela percebe que o ama. E isso é o amor de verdade, não a paixão.
O amor é calmo, é translúcido. Você não tem pressa, não acha que vai perder, porque o seu amor é seu. Você sente. Está lá dentro do seu peito e, de pensar em qualquer pessoa que você ame, dá um alívio gostoso. Pense naquelas vezes em que teve um problema cabeludo, mas quando pensou em alguém que ama, só de pensar, já se sentiu melhor. É mais ou menos por aí.
Amamos com a alma. Amamos porque sentimos. Quem não sente não pode ter a maravilhosa capacidade de amar. Pode sim, apaixonar-se, mas não se permite amar. Não porque não queira, mas porque nem sabe a diferença.
E esta é a grande pergunta sempre. O que é a amor e o que é paixão e como eu sei a diferença? Como eu sei que amo e que não é só uma paixão. A gente confunde tanto... diz que ama a paixão e despreza o amor. Como pode isso?
Amar é isso. É entrega de um pedacinho da sua alma em troca do mais absoluto nada. Você não quer nada, não exige nada... só quer pode ficar ali, junto, sem pensar, só sentindo que aquele é, com certeza, o único lugar no planeta onde você queria estar. Que estar naquele lugar, com aquela pessoa, é a coisa que mais faria o seu dia feliz.
E amor pode ser por qualquer pessoa. Pode ser por uma coisa, por uma idéia, por uma profissão. Mais uma vez repito: quem sente é você. O amor não morre com o outro ou com a distância. Você não enterra seu amor junto com os entes queridos que já se foram. É o que chamamos de saudade. “Saudade é o amor que fica” como li um dia destes num texto que recebi pela internet. Fica e dura para sempre. Uma mãe que perdeu um filho sempre vai amá-lo. Uma mulher que perdeu o marido também. Isso não quer dizer que não vivam, que não possam se apaixonar, mas o amor, ele é sim eterno.
É engraçado, né? Procuramos tanto o amor eterno, o famoso amor eterno, e não percebermos que ele já existe dentro de nós. Que não precisamos do príncipe para amar eternamente. Que nem precisamos ficar com a pessoa para amá-la eternamente.
Perdi minha avó com 14 anos. Ela era a minha segunda mãe e o amor que eu tenho por ela, ainda hoje, é enorme. E é uma delícia poder ainda sentir este amor. Não é bárbaro? Ela se foi porque este era o seu caminho, o seu destino e as suas escolhas, mas isso não matou o que eu sinto por ela. Ela sempre, sempre terá um cantinho, um nicho bonito e bem cuidado dentro do meu coração. É assim, todas as nossas lembranças boas como as batatas-fritas que ela fazia, os morangos que colhíamos juntas no quintal e as brincadeiras do Bozo em frente à TV vão durar para sempre.
Isso é o amor eterno. Isso é o verdadeiro e real amor eterno. Aquele que cultivamos dentro de nós e que não precisa de prova nenhuma de que existe. Porque ele é mais real do qualquer outra avó viva que tenha por aí.
E é sentir isso e perceber isso, que cura as nossas feridas. Que cura a nossa saudade. Que coloca pequenos bandaids no nosso coração. Que nos mostra que mesmo não presente, a presença do amor é sempre eterna. Não a posse da pessoa ou da coisa em si. Não o apego que ela fique conosco porque precisamos dela, como se precisássemos de qualquer coisa que esteja fora de nós, mas por amar. E só.
É uma grande ilusão procurar no mundo a felicidade. Ela já existe. Está lá dentro, escondidinha muitas vezes por uma montanha de mágoa e de corações partidos. Chega disso! Vamos largar isso? Vamos largar as mágoas, os casos mal-resolvidos, os problemas de infância e todas estas coisas que, na verdade, só nos ajudaram a sermos a pessoa que somos hoje? Vamos viver com verdade, verdade absoluta no que sentimos.
Faça um exercício agora, um que aprendi [...] no Gasparetto. Coloque a sua mão no peito e sinta você lá dentro. Sinta esta pessoa que mora lá dentro e que é dona da sua verdade. A sua alma. Aquela que sabe cada pequeno detalhe do que é o melhor para você. Aquela que te orienta de verdade, tanto para acertar um caminho, quando para resolver a crise mundial.
Olhe lá para dentro e sinta-se. Sinta o amor que você tem reservado para você mesmo e que é eterno e nunca acaba. Limpe as teias de aranha do seu coração, coloque lindos bandaids coloridos e cure estas feridas. Logo os bandaids nem serão mais necessários e todos os seus amores estarão felizes, vivendo lá dentro de você.
Isso é o nosso poder pessoal absoluto. O poder de podermos sentir!
Sinta isso!
Andrea Pavlovitsch - Psicoterapeuta
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