Abre-se a floresta até então intransitável e densa.
Definem-se dificuldades, pântanos, espinheiros…
O semeador, porém, não se confia ao desânimo.
Traça planos.
Ataca o serviço.
Realiza o milagre.
De início, é o desbravar. Em seguida, surgem os imperativos de preparação do solo e de seleção dos recursos. A cova minúscula e escura recebe a semente pequenina,
que perde os envoltórios com a colaboração do tempo.
Só então, é possível a promessa do grelo tenro. Todavia, não param aí os desvelos e as vigílias do semeador.
Hoje, é necessário proteger a plantinha frágil contra o esmagamento; amanhã, é imprescindível furtá-la ao assédio dos vermes destruidores.
Agora, pede a lavoura iniciante adequada medida contra a canícula rigorosa; depois, reclama providência que a salvem do aguaceiro. A fronde, a flor e o fruto representam,
no entanto, o precioso prêmio.
Assim também, é a sementeira espiritual.
Nas profundezas da mente inculta caem os princípios da Divina Sabedoria. Ninguém exija, contudo, o resultado absoluto num instante.
Quantos séculos teremos distendido, na formação da selva de nossos instintos e de nossos caprichos obscuros?
O serviço de adaptação e educação reclama tempo e paciência para que a colheita do conhecimento e do amor, em cada alma, enriqueça os celeiros da Terra.
Não esperemos que o nosso companheiro de experiência nos ofereça a perfeição impraticável de um momento para outro.
Se procuramos o Cristo, gravemos as liçoes d’Ele, em nós mesmos, antes de impô-las aos semelhantes. Adubemos os solos dos corações com a luz do bom exemplo, com a
bênção da fraternidade, com a flor do estímulo e com o silêncio da compreensão.
Não firamos, onde não possamos auxiliar. O Sol resplandece sem palavras, curando as chagas do Planeta. A fonte rola cantando, sem acusações, colada ao dorso da Terra.
O vento fecunda a natureza, sem exigências.
Amemos sempre.
O coração que se devota à fraternidade não usa o poder do verbo para denegrir ou dilacerar.
Passemos auxiliando.
Compadeçamo-nos do cardo que ainda conserva aguçados acúleos. Compadeçamo-nos das ervas envenenadas, que ainda não conseguiram modificar a própria seiva.
Compadeçamo-nos das árvores infelizes, cujos galhos ressecaram pela pobreza do ambiente em que nasceram.
A senda é longa.
A romagem solicita o esforço das horas incessantes.
Sigamos improvisando o bem, por onde passarmos.
Guarde a nossa luta a sublime experiência do semeador.
Compreendamos o cipoal, auxiliemos o chão duro do destino e aproveitemos a lama da estrada para o bem geral, projetando na terra das almas as sementes benditas que o Mestre nos confiou.
E, esperemos o tempo, de vez que o tempo é o patrimônio da Divina bondade que na esteira dos dias, dos anos e dos séculos, nos oferecerá sempre à colheita de nossa vida, segundo as nossas próprias obras.
André Luiz
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